Vida

Entrepasso pelo jardim da morte

Me despeço da carne

A vida está se esvaindo pelos meus dedos 

E não posso agarrá-la

Sinto algo, peço que se vá

Que deixe a carne a que me agarro, que mantenha o espírito intacto

já que ter uma carne, sem espírito, não era uma opção aceitável, não!

Este algo que eu sentia - uma presença - se enlaça a mim

Peço por isso por alguns instantes,

me vejo confusa por sentir algo, um acalento, um abraço, imaginário

sinto que estou tão sozinha que me sinto acalentada pelo vento, e pela morte

Os abraços, de corpo e alma, já não me pertencem

Recobro a mim mesma uma atenção redobrada sobre toda a minha vida:

Quando disse aos deuses que não queria mais flores, nunca mais as ganhei. Como se eu não fosse mais digna de recebê-las! Um dia posso explicar isso a você..

Agora, não me recordo de dizer que não desejava mais afeto!

Volto ao local onde está meu corpo neste instante, num local cheio de quartos com pessoas em busca de manter sua carne e seu espírito, intactos, ou o menos danificado possível.

Esqueço por hora, a falta de afeto, me sinto mais forte.

Volto a atenção para o abraço que me enlaçava, apesar do acalanto sentido, não era a hora. Peço gentilmente : vá embora!

Saio do jardim da morte

Me vejo flutuando, reluzente, numa vestimenta branca, esvoaçante. Tudo tão simbólico! Me soava, angelical, algo a la Boticceli!

A energia da vida é fluida, somos o canal energético que nos sustenta neste plano, mas, podemos ser o canal de outros corpos, quando estes o necessitam. 

Algumas coisas não podem ser compreendidas no campo das explicações lógicas e objetivas. Nem sempre necessitamos explicá-las, basta senti-las para poder entender e modificar o que for preciso, mas, é necessário ter cuidado pra não cairmos nos "achismos" e nos pré-julgamentos. 

A vida voltou, este é o fato! Alguns dirão que os médicos eram bons, ou dirão que isso também, mas, existiram mais fatores, coisas que foram dissolvidas e que ninguém fala sobre.

O fato é o que importa: a vida voltou. E ponto. 

Eu nunca quis ter razão! Apenas ter paz!